segunda-feira, 29 de maio de 2017

RIO WOLF



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Jeff  Buckley

O tempo passou sob a ponte dos desejos e nem me disse nada, nem de sorte nem de azar. Deixei meu barquinho de papel correr rio Wolf abaixo, e antes do Mississipi ele desapareceu, deixando uma música inacabada no ar...então descobri que “não consigo ser alegre o tempo todo” . E as pessoas que caminham ao nosso lado, nem sempre estão do nosso lado, por vezes nos confundimos e até desejamos que aquele ser ali, no mesmo passo, poderia ser a cara metade. Mas cedo descobri, que isso não existe, estamos sós no universo, como nosso planeta. Os rios seguem, se encontram, e seguem, se unem, e seguem deixando um rastro úmido para os ribeirinhos, os pescadores, as sereias e os cavalos marinhos. Toquei de leve o rio que passava, meus dedos molhados disseram ao resto do corpo, para se afastar ou se deixar levar de vez, como os barquinhos de papel que desaparecem no rio Wolf, antes de desembocar no rio Mississipi...

"Don't be like the one who made me so old
Don't belie the one who left behind his name
'Cause they're waiting for you like I waited for mine
And nobody ever came"

by Jeff Buckley

segunda-feira, 22 de maio de 2017

8 ANOS NA BLOGOSFERA


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Conheço um menino chamado Isaac que tem a idade de meu blog, nasceu no dia do primeiro post que escrevi, 20 de maio, há 8 anos atrás...escrevo para meu presente, quem sabe deixar um legado ou besteirol que poderia ser descoberto num futuro, por um eu de outro tempo...conjeturas...como diz meu amigo Vitorio Nani, poderíamos nos tornar eternos no mundo virtual. Escrevo há muito tempo, escritos perdidos. Mas há 8 anos escrevo aqui , muita coisa autoral,poemas, letras de músicas, trechos que me apetecem; também já defini meu blog como terápico, poético, diário (como se fosse possível um diário na internet), enfim...escrevo o que me aflige dando um toque dramático, poético, metafórico, e sempre tenho sorte, um comentário faz um blogueiro feliz, uma das coisas que li quando comecei a navegar pela blogosfera, e eu fico. Mas não sei que rumo tomar,, mas estou mais organizado que meu país, que virou uma quadrilha nacional oficial que comanda ou descomanda o Brasil , comprovando que no Brasil só o crime é organizado. Penso também em abolir os comentário, para não ter de sofrer em ver um post só, perdido no mundo virtual, sem um oi, mas faz parte, não se pode ter tudo, já devo agradecer por ter um blog e expressar o que sinto através da escrita. Sou mórbido, tenho consciência, mas sou alegre também, trago tristezas na alma, mas meu coração está repleto de sorrisos. Meu blog anda entre altos e baixos, mais baixos que, mas daí a amiga Tais me acorda, trás palavras, ela lida bem com elas, que me fazem reagir, perceber o ser humano que sou, porque às vezes eu escrevo e não fica muito claro o que quis dizer, mas daí vem meu xará Jair Cordeiro Lopes e poeticamente relê nas minhas entrelinhas o que estava sentindo e não conseguia definir . Em 8 anos conheci tantos blogs e blogueiros, uns mais, outros nem tanto, mas existe um respeito mútuo, que é o que mantém a vida tranquila entre blogs e blogueiros. Alguém tem de dar o exemplo de paz para o mundo. Aqui aprendi a gostar de pessoas que não foram materializadas para mim, mas o gostar, o sentimento existe, e como no mundo real, sinto muita saudade também, mas entendo, seguimos caminhos, nossos caminhos, por vezes se cruzam, por vezes não. Só sei que escreverei enquanto estiver vivo, agora que já fiz 50 anos, penso estar no lucro, meus órgãos vitais já não são os mesmos, e meu coração dá sinal de cansaço, por amar demais e não ser amado, de correr demais e agora estar cansado. Meu coração bate ao ritmo do de minha mãe...e o menino Isaac cresce, está sendo alfabetizado, gosta de jogar capoeira, uma criança que brinca e se entrega a vida, a sua longa vida que tem pela frente.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

OLHAR CEGO


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Ad infinitum...ao que parece nossa triste situação política do país, só morrerá quando não houver mais pedra sobre pedra, ou melhor, esta geração de políticos podres e corruptos não serem mais votados pelo pobre povo ignorante do Brasil. Incertos destinos e certos, talvez, determinados fins, de final. Mas eu sempre lembro do Collor, foi dado impeachment, e ele retornou nos braços do povo para o Senado. Não temos memória. Não temos respeito. Não temos compaixão. O lucro é tudo que se quer e se consegue das piores maneiras, como estamos vendo o que está acontecendo com nosso país. E no meio de tudo isso, meu grito de socorro é sufocado e minha mãe pode voltar para as trevas da catarata. E eu me perder dentro de mim...Era muita catarata, o sucesso da operação sucumbe no olho machucado. Outro olho, outra técnica, outra e última oportunidade de abrir uma brecha para a visão de minha mãe. Pedir a Deus ? Vender minha alma ao Demônio ? Não suportarei minha mãe cega, nos poucos anos que lhe restam de vida. Em minha família morremos cedo. Mas eu morreria sem ela e não suportaria a escuridão de seu olhar...pensar, sempre há uma saída, mas tem de ser rápido, senão a escuridão não terá mais volta, ad infinitum...

terça-feira, 16 de maio de 2017

IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER


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Cazuza


IDEOLOGIA


Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do "Grand Monde"

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver


by Cazuza


ps. Toda manhã peço a Deus que afaste de mim este grito da morte me chamando, sempre depois de 40 degraus...sempre tenho vontade de morrer quando subo, quando desço...ainda bem que tenho Deus em mim. Eu era jovem e amava o Cazuza quando ele partiu, ainda hoje guardo uma imensa saudade. Não é todo  dia que um anjo torto em forma de gente, nos dá o prazer de viver no nosso tempo. Eu vivi o tempo de Cazuza, sinto falta, assim como  já  sinto falta do Belchior. No momento apenas preciso de uma ideologia, que recomece a me ensinar a viver e não desejar a morte, só se ela  for    silenciosa e não deixar  eu ver ela me levar.
O dia se faz lindo hoje, não é um bom dia para morrer, seria um bom dia para amar, se o amor fosse possível. Tempo bom para esquecer, caminhar sem destino, parar e observar o mundo como ele é,      egoísta, mal, triste...mas nada que um dia de Sol para aquecer  e alegrar um coração triste.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

CONEXÕES PERDIDAS


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Somos tão distantes uns dos outros, inventamos caminhos distraídos. Conexões perdidas entre as raízes das árvores. Sim, elas se comunicam, agora eu sei, e “só as árvores são naturais, o resto é fruto da mente do homem”. Comecei assim minha caminhada, de árvore em árvore. No início eram brincadeiras, balanços, navios e naves espaciais. Depois o entrincheiramento, a fuga e o esconderijo...sobre árvores brinquei minha infância, no alto, distante de quase todos, existiam os meninos perdidos, que sempre estavam sobre árvores, e por vezes, os encontrei e brinquei, mas distantes uns dos outros. Corpos estranhos em lugar comum a todos. Não adianta uma multidão, se te sentes só. Como diz aquela canção de um suicida: “quando a rotina pesada e as ambições são pequenas, e o ressentimento voa alto, mas as emoções não crescem. E estamos mudando nossos caminhos, pegando estradas diferentes”. Somos tão distantes e estranhos uns aos outros. Inventamos caminhos de amor e morte e desculpas para não olhar nos olhos. Negamos respostas que se encontram dentro de nós, mas não sentimos nem vemos. Seguimos caminhos entre árvores, que se colocam lado a lado, em pares, unidas pelas raízes do amor eterno, e resistem ao tempo e as tempestades, aos raios que teimam em se atrair por elas, matando uma, morre de amor a outra. Menos oxigênio, pouco a pouco, pois nossas conexões não são fiéis como as árvores, e apesar do tempo gasto entre nós, estranhos e individualistas, nada mudará este estado, esta forma de viver. Somos tão distantes e estranhos uns dos outros.



"When routine bites hard and ambitions are low
and resentment rides high but emotions won't grow
And we're changing our ways
taking different roads"

by Joy Division


terça-feira, 9 de maio de 2017

NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso." by Fernando Pessoa
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Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu



by Fernando Pessoa

sexta-feira, 5 de maio de 2017

QUEM TEM MEDO DE ROBÔ MAL ?


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Estava eu atarefado com minhas coisas de trabalho, em uma manhã de raro Sol sereno, uma leve brisa, um dia perfeito de um bom Outono. Tenho quarenta degraus para encarar toda manhã, que faz parte de minhas funções, uma espécie de arauto do apocalipse, saio pelo prédio a entregar material de expediente, cartas, oficios, requerimentos, enfim, um traço da tecnocracia, uma burocracia louca e destruidora que nós seres humanos criamos, agora comandados pelo mundo virtual. Que chega contudo, oferecendo as mais incríveis possibilidades virtuais. Chega de papel ( as árvores agradecem). Chega de seres humanos, afinal os computadores estão sendo aperfeiçoados para nos substituir. Como vivemos praticamente na barbárie, onde a política suja o pouco que resta de dignidade do povo brasileiro. Mas não podemos reagir, afinal as leis estão aí para proteger o cidade e a sociedade, a busca da paz social. E não é o que vivemos hoje, nosso país, nossas cidades frequentam os piores ranks na violência, matança nos presídios, gays são mortos assim, simplesmente. E da saúde, a saúde não existe mais, estamos todos doentes. Mas nossos filhos estão viciados nesta nova onda. A virtualidade. Mas quem disse que é para o nosso bem as máquinas criadas pelo próprio homem. Não é de se admirar, se nos matamos com tanta facilidade e por nada. Respeito ? Palavra banida de nosso dicionário. E no redemoinho desses pensamentos, percebo uma movimentação no castelo onde trabalho, os lugares de repente, estavam vazios ou um e outro, trabalhando maquinalmente. Um curso para aperfeiçoar e implantar um novo sistema altamente virtual, o futuro chegando a galope nestes pampas. Foi então que percebi, sou carta fora do baralho, meu trabalho não carece aperfeiçoamento, já posso ser descartado, assim como fiz concurso para entrar, mas como o que faço um robô fará, não existe mais a necessidade de minha presença. Socialmente senti-me excluído por não ser chamado, assim como todo mundo que precisar deste serviço. Ou manobras um robô ou desiste e fuja para o campo, o mato, longe, longe de tudo aqui. Até que os robôs deem falta e começam a seguir, numa louca caçada, aos seres humanos. Enquanto isso, tomo meu chá, fico em silêncio, esperando o momento em que serei chamado, para dizerem que não precisam mais de meu serviço.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

VAMOS PARA NOSSA CASA


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A espera tornou-se sem expectativa, mesmo caminhando por toda a praça, contando cada árvore, examinando os brinquedos, sentando em todos os bancos, e sua esperança começa a partir. Todas as palavras ditas, mal ditas, e mal interpretadas. Fecha os olhos e só consegue lembrar dos gritos, pratos sendo quebrados. Susto. Houve-se em bater de porta, de passos pelos corredores e escada abaixo, já que o elevador deixou de funcionar, e ninguém, nem o síndico resolve este problema. Mas agora os passos saem pela porta do prédio, uma dúvida, esquerda ou direita? Olhou para o céu e viu nuvens passando apressadas, algumas juntando-se e formando uma nuvem maior...segue pela direita pois o final da rua termina em uma praça. Seu lugar favorito do mundo, e do outro também. As relações nos dias de hoje, disse o avô de um deles, são frágeis porque falta verdade no sentimento. É tão fácil abraçar, beijar e transar, mas conviver junto em harmonia e respeito, poucos conseguem, sem falar nos casais com anos de casamento, mas são dois estranhos dormindo na mesma cama. Ficou ali, sentado no último banco, sob a sombra de uma imensa seringueira, com suas raízes expostas, formando um belo labirinto de caules, como o labirinto de seu coração, e talvez do outro também. Distraído de baixo da árvore, não percebeu que chegava uma chuva de verão. E antes que pudesse reagir, correr, falar , estava em pé, na sua frente, com o enorme guarda-chuva que compraram por brincadeira, era tão grande que parecia lona de circo. Agora, frente a frente, não conseguia sair dali, foi quando puxado pelo braço, ouviu: vamos para nossa casa...

quarta-feira, 3 de maio de 2017

BELCHIOR


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Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco e vindo interior”...foi quando descobri Belchior já no inicio dos anos 80 (que saudade musical) . Aos sábados me reunia com amigos na casa do Jaca, o amigo que me apresentou Belchior. Eram discos, com as letras dentro da capa. Lembro de ter quase enlouquecido com a poesia dele. Já naquela época gostava de rabiscar, poemas, textos que se perderam nas mudanças. O que havia encontrado naquele cantor bigodudo era muito mais do que imaginava minha vã filosofia. Foi um situar-me no mundo, o que estou fazendo, e como fazer. Ainda vivia na ditadura militar, e as letras de Belchior me davam sinais, me mostravam caminhos, que hoje entendo melhor. Sempre gostei de música, desde o ventre rs e quando vivendo aqui neste planetinha, muito menino descobri a poesia, mas nada que fizesse muito sentido, até encontrar Belchior, eu, um rapaz latino americano sem dinheiro no banco, começava a ver com outros olhos, outra mente, outra postura com relação ao mundo que me rodeava, e nem sempre conseguia acompanhar. E sem dinheiro no banco e a inexistência da internet, restava-me muito pouco. Então devorei a biblioteca pública e ia me alimentado de palavras, com a música do Belchior sempre me acompanhando. Foi minha trilha sonora. Passei a ter um posicionamento político contra a ditadura que já dava sinais de cansaço. Pensei em postar junto uma letra de música dele, mas já o fiz em outras oportunidades no meu blog, então me limitarei a prestar esta singela homenagem ao artista que mexeu para sempre com minha mente, meus sentidos, minha vida...pois continuo latino americano sem dinheiro no banco, nem parente importante, e vivendo no interior.